Um primeiro comboio de ajuda humanitária chegou a Ghouta Oriental, onde o
Exército sírio mantém cerca de 400 mil habitantes sitiados, anunciou o
Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) nesta segunda-feira. No
entanto, uma autoridade da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que
autoridades do governo sírio removeram a maior parte dos materiais
médicos dos veículos da ONU, impedindo que kits cirúrgicos, insulina,
equipamentos de diálise e outros suprimentos entrassem no enclave
habitado por 400 mil pessoas. A situação dos civis na região se agrava
cada vez mais com o avanço da ofensiva terrestre do presidente Bashar
al-Assad para retomar o último bastião insurgente, no subúrbio da
capital síria Damasco. O Exército do governo já controla um terço do
território, ocupado por grupos armados opositores, anunciou o
Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
"Tomaram novas terras agrícolas e continuam seu avanço pelo leste (...)
As forças do regime controlam agora 33% (do território de cerca de 100
quilômetros quadrados)" indicou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman,
acrescentando que as forças do governo estão agora a dois quilômetros de
Douma, principal cidade de Ghouta. "Avançam rapidamente, porque as
operações acontecem, principalmente, nas zonas agrícolas".
O comboio humanitário composto por 46 caminhões foi reduzido de modo a
atender 27.500 pessoas, em vez de 70 mil. É o primeiro grupo de ajuda a
alcançar a região desde meados de fevereiro, quando a ofensiva do
governo sírio se intensificou, apesar da trégua diária imposta
paralelamente por Rússia e ONU. Ao menos 719 pessoas morreram nesse
período, incluindo muitas crianças.
Uma autoridade graduada da ONU acompanhando o comboio disse "não estar
feliz" em ouvir altos bombardeios perto do ponto de cruzamento para
Ghouta Oriental, apesar de um acordo para que a ajuda humanitária fosse
entregue sob condições pacíficas. Na madrugada de domingo para
segunda-feira, 14 pessoas morreram, segundo os ativistas. Outras 5.640
pessoas ficaram feridas nos confrontos.
"Precisamos ser assegurados de que vamos ser capazes de entregar o
auxílio humanitário sob boas condições" disse Ali al-Za'tari no ponto de
cruzamento.
No domingo, o presidente sírio Bashar al-Assad se comprometeu a
continuar com a ofensiva militar sobre Ghouta Oriental enquanto tropas e
milícias armadas capturam aldeias e vilarejos, no maior avanço das
operações de ataque desde o mês passado. Em declarações para um pequeno
grupo de repórteres em Damasco, Assad afirmou que continuará a "trégua
humanitária" de cinco horas diárias no leste de Ghouta, permitindo que
os civis deixem a área.
"Não há contradição alguma entre a trégua e a operação militar" afirmou.
Assad também negou que o governo sírio tenha realizado ataques com gases
tóxicos, e classificou como "dicionário de mentiras" os relatórios
ocidentais que apontam para isso. As Nações Unidas indicaram que
planejam a entrega de ajuda a um total de 70 mil pessoas na região a
partir desta segunda-feira, após autorização do governo. Funcionários da
ONU afirmaram que a falta de consenso entre as partes do conflito,
assim como a duração limitada da trégua humanitária ordenada pela
Rússia, têm impossibilitado a entrega de ajuda.
O Globo
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