As quatro chacinas ocorridas neste ano na Grande Fortaleza evidenciam a
fragilidade na segurança pública do Estado. Segundo dados da Secretaria
de Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), do dia
1º de janeiro até o dia 12 de março de 2018, foram registrados 1.010
crimes violentos letais e intencionais (CVLI).
O número, se já é assustador, é superior ao que foi contabilizado nos
três primeiros meses do passado, quando aconteceram 976 homicídios. 2017
acabou como o ano recordista em assassinatos no Ceará.
Em meio a esse cenário, o Tribuna do Ceará ouviu o professor José
Raimundo, do curso de pós-graduação de economia da Universidade Federal
do Ceará (UFC), e Ricardo Moura, pesquisador do Laboratório de Estudos e
Pesquisas Conflitualidade e Violência (Covio) da Universidade Federal
do Ceará (Uece), para saber os principais fatores que contribuíram para a
insegurança.
Dentre os pontos, o baixo investimento na investigação e julgamentos dos
crimes é considerado um dos principais problemas. Confira!
1 – Falta de reconhecimento sobre a existência das facções criminosas
“O plano de segurança desta gestão em nenhum momento abordou as
facções criminosas. Você não encontra um parágrafo para falar da crise
penitenciária. Se você sequer reconhece a criminalidade do Ceará, como
um problema de classe econômica, e, não de facções criminais, que é um
problema totalmente diferente. O plano é falho”, aponta o professor José
Raimundo.
De acordo com uma pesquisa realizado pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo, o Ceará é o estado com o maior número de membros da
facção do PCC na região Nordeste e o terceiro do País com 2.403 pessoas
envolvidas com a organização. São Paulo e Paraná ocupam os dois
primeiros lugares com 8.534 e 2.426 membros, respectivamente.
2 – Baixo investimento na Polícia Civil
“Foi feito um alto investimento na Polícia Militar. Isto é válido.
Mas a Polícia Civil, que é responsável por investigar, não teve o mesmo
investimento. Há um número muito grande de casos que não são
investigados. A probabilidade de que essa pessoa volte ao crime é muito
grande”, ressalta o pesquisador Ricardo Moura.
3 – Governo apontava que a maioria das vítimas era envolvida com o crime organizado
“O governo alegava que a maioria das vítimas tinha envolvimento com o
tráfico de drogas. Era uma tentativa de desviar o foco. Mesmo que
fosse, e daí?! Se morreram só pessoas envolvidas com o crime organizado,
não precisa de segurança pública?”, questiona José Raimundo.
4 – Lentidão na Justiça
“Temos cinco Varas de Júri responsáveis por julgar esses crimes. Há
pelo menos 20 anos mantém a mesma estrutura. Há um grande déficit de
casos que não são investigados nem julgados. Nesse meio tempo em que o
crime é processado, a audiência demora para ser realizada e não tem data
de julgamento. A probabilidade de que essa pessoa volte ao crime é
muito grande”, afirma Ricardo Moura.
5 – Baixo investimento em serviços de inteligência
“O governo só gasta cerca de R$ 20 milhões por ano em inteligência. E
o crime tem uma presença forte no Ceará porque o crime organizado tem
capilaridade. Ele (facção) ocupa lugares onde o Estado não está
presente”, expõe José Raimundo.
O Tribuna do Ceará solicitou informações referentes aos investimentos na
Polícia Civil e na Polícia Militar desde início desta gestão e se
dentro do planejamento de segurança havia estratégias para combater a
atuação das facções criminosas, entretanto a demanda não foi respondida
até a publicação desta matéria.
Tribuna do Ceará
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