Na última terça-feira, 30, o governo federal autorizou o envio de uma força-tarefa da Polícia Federal para auxiliar as forças de segurança do estado nos trabalhos de inteligência e combate aos crimes.
Menos de uma semana após a morte de dez presos da Cadeia Pública de Itapajé, uma inspeção realizada nesta quarta-feira (31) na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II) constatou a fragilidade dos agentes penitenciários ante a hegemonia de uma facção que domina os mais de mil internos do local. De acordo com Ruth Leite, representante do Conselho Penitenciário do Estado (Copen), que participou da visita, a unidade “não foi recuperada” completamente até hoje, desde 2016, quando uma série de rebeliões ocorreu no Ceará.
“Não houve recuperação física da estrutura. Houve gambiarra,
paliativos. Quando os presos perceberam que ia começar uma reforma [no
ano passado], quebraram de novo [as paredes]. Eles continuam soltos nas
galerias”, afirmou. No último fim de semana, 14 pessoas morreram durante
uma festa na periferia de Fortaleza, nesta que foi considerada a maior
chacina do Ceará. Dois dias depois, um conflito entre detentos da Cadeia
Pública de Itapajé terminou com outras dez mortes.
Nesta terça-feira, 30, o governo federal autorizou o envio de uma
força-tarefa da Polícia Federal para auxiliar as forças de segurança do
Estado nos trabalhos de inteligência e combate aos crimes.
Segundo
Ruth Leite, há apenas dez agentes penitenciários em cada plantão,
responsáveis por cerca de 1.200 presos que se encontram atualmente na
unidade. Em cada uma das seis galerias, os detentos circulam livremente,
não sendo mais recolhidos em suas celas. Assim como outras
penitenciárias, a CPPL II fica em Itaitinga, na região metropolitana de
Fortaleza. De acordo com a representante do Copen, a inspeção foi
agendada após o registro de boletins de ocorrência por parte dos
agentes, que buscam se resguardar caso sejam responsabilizados por algum
incidente na unidade prisional.
“A gente anda
na unidade mas não consegue nem ver os presos, nem de longe, porque eles
estão separados com portões chapados e a gente não consegue [entrar].
Ou seja, eles estão livres lá dentro para fazer o que quer”, alertou a
integrante do conselho. Segundo ela, os agentes penitenciários continuam
fazendo os atendimentos técnicos, mas “nenhum projeto de
ressocialização”, a exemplo de escola para os detentos, funciona mais,
porque “tudo ainda está destruído”.
Facções
O
presidente do Sindicato dos Agentes e Servidores Públicos do Sistema
Penitenciário do Estado do Ceará, Valdemiro Barbosa, concorda com a
necessidade de melhoria integral do sistema penitenciário. “Eles estão
com o controle total da unidade. É a realidade da CPPL II hoje. É uma
unidade que está toda danificada, não temos mais isolamento [dos
presos]. Se o agente é desacatado, não tem como mais extrair o detento e
levar ao isolamento, porque eles pertencem todos a uma mesma facção”,
disse.
Lembrando dos pleitos encaminhados
anteriormente ao governo do estado, como a contratação de novos agentes e
mais investimentos nos presídios, Valdomiro Barbosa conta que os
funcionários não têm equipamentos de segurança nem o armamento
necessários para fazer os procedimentos de segurança. “A estrutura está
danificada, a iluminação e o monitoramento também. Há vários pontos
cegos. Com isso, o agente penitenciário está correndo o risco seríssimo
de ter sua vida ceifada a qualquer momento”, afirmou.
Procurada,
a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceará não respondeu
até a publicação desta reportagem. Nesta segunda-feira, 29, o governo do
estado anunciou um plano de segurança em parceria com o Poder
Judiciário do Ceará e o Ministério Público para concentrar ações de
combate às facções criminosas na região.
Agência Brasil
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