Há pouco mais de um mês, as gêmeas Maria Ysadora e Maria Ysabelle, 2
anos, se viram pela primeira vez, após serem submetidas a uma cirurgia
de separação até então inédita no País. Caso raro de siamesas
craniópagas (ligadas pelo topo do crânio), elas podem retornar ao Ceará
nas próximas semanas. Assistidas no Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto (SP), é lá que elas e os pais vivem desde janeiro.
"As meninas continuam surpreendendo. Ainda está em processo de decisão,
mas os pais estão pensando em voltar nas próximos semanas", contou ao O
POVO o médico cearense Eduardo Jucá. Segundo o neurocirurgião, que
acompanha o caso desde o início, a viagem de volta é possível do ponto
de vista médico.
Movimentando bem os membros, mexendo no celular, as meninas têm reagido
bem a estímulos. "Elas já estão sorrindo, brincando com objetos,
sustentado o pescoço - coisa que não faziam antes. A gente estimula e
elas respondem. A gargalhada é a melhor resposta desse processo todo".
Até a separação final, em 28 de outubro, o procedimento foi realizado em
cinco etapas ao longo deste ano. Antes disso, as meninas viviam unidas
pelo topo da cabeça, compartilhando parte do cérebro.
"As funções (cerebrais) estão todas presentes. O que precisa agora é a
reabilitação, porque elas passaram dois anos, praticamente, sem poder
serem estimuladas, sem se locomover. Se uma criança, que não é siamesa,
não for estimulada, ela também teria alentecimento do desenvolvimento",
esclarece.
Um fator positivo no caso é a neuroplasticidade, que é a capacidade
natural do cérebro de adaptar as funções. "Quando uma área do cérebro
tem dificuldade, outra assume. Essa capacidade é mais intensa nas
crianças. A fisioterapia, o estímulos, a reabilitação em geral aumenta
em muito a intensidade das novas conexões cerebrais".
Para dar continuidade ao processo, que será longo e já se iniciou em
Ribeirão Preto, Eduardo explica que há um planejamento para poder
oferecer em Fortaleza o que as meninas necessitam: fisioterapia,
fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia. O médico adiantou que
algumas opções de hospitais estão sendo estudadas e, como a família
reside no distrito de Patacas, em Aquiraz (Região Metropolitana de
Fortaleza), a localização poderá determinar a escolha.
Sobre o sucesso do caso, o médico atribui também à "corrente positiva"
que se criou. "As pessoas vêm conversar com a gente. Pessoas que não
têm nada a ver e vêm se manifestar. Que se envolveram, torceram junto.
Isso deu muita motivação para seguir num dos maiores desafios da
medicina brasileira", agradece Jucá.
O POVO Online
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