Começando o ano “no vermelho”, mais da metade dos municípios do Ceará
teve que optar entre pagar o 13º salário ou a folha dos servidores em
dezembro passado. A informação é de relatório da Associação de
Prefeituras do Ceará (Aprece), que aponta “calote” de repasse de R$ 2
bilhões prometido pelo governo Michel Temer como motivo da crise.
“Esse auxílio foi prometido para o final de 2017, mas acabou não
vindo. Por conta disso, muita gente que estava contando com isso acabou
sem ter como pagar 13º e folha”, afirma o presidente da Aprece e
prefeito de São Benedito, Gadyel Gonçalves (PCdoB). Ontem, 02, prefeitos
do Estado se reuniram em Fortaleza para articular cobrança da verba
junto ao Planalto.
Segundo Gadyel, a suspensão foi na chamada verba de Auxílio
Financeiro dos Municípios (AFM) para 2017. Segundo ele, apesar de duas
promessas feitas pelo próprio Temer em reuniões com entidades de
municípios, o recurso não foi repassado por “falta de orçamento”. “O
pior é que a maioria são cidades pequenas, onde a necessidade acaba
sendo maior”, protesta.
Gadyel acrescenta que, diante de críticas, Temer ainda editou Medida
Provisória garantindo liberação do AFM em 2018. “Ele diz que vai ser
neste ano, mas não diz em que mês, nem data, nem como. Então fica um
transtorno só.”
Como alternativa, gestores planejam “caravana” a Brasília para pedir
reunião de emergência com o presidente do Senado, Eunício Oliveira
(PMDB-CE), para articular liberação imediata do auxílio para
prefeituras.
Nos bastidores, alguns prefeitos se queixavam de que o governo
federal estaria condicionando a liberação da verba a apoio de líderes
políticos à reforma da Previdência, atualmente em tramitação no
Congresso.
Na reunião de ontem, diversos prefeitos se diziam indignados com a
suspensão da verba. Por conta do corte, eles apontavam situação
generalizada de prefeituras abrindo 2018 já com dívidas com fornecedores
e na folha de servidores.
“Havia um acerto, uma garantia. Então claro que todo mundo sentiu”,
reclama o ex-prefeito de Granja e atual procurador-geral do Município,
Romeu Aldigueri (PR), que diz ter honrado pagamentos de servidores. Ele
destaca, no entanto, que a gestão precisou promover uma série de
contingenciamentos para manter as contas em dia.
Segundo dados do consultor econômico da Aprece, André Carvalho, o
corte vem em má hora, com municípios já vivendo crescente de queda de
repasses. Somente em 2017, houve corte de R$ 403 milhões em repasses do
Fundeb e mais R$ 155 milhões do Fundo de Participação dos Municípios
(FPM) no Ceará. O recurso que viria, diz ele, não cobriria nem 20% das
quedas dos últimos anos.
O POVO Online
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