No primeiro debate da disputa pela Presidência da República,
promovido na noite desta quinta-feira pela Band, os candidatos
evitaram, na maior parte do tempo, o confronto direto. O encontro entre
os presidenciáveis, que durou cerca de 3 horas, transcorreu em
temperatura morna. A expectativa de que o candidato do PSL, Jair
Bolsonaro, fosse o principal alvo de questionamentos dos adversários não
se confirmou. Dono da maior coalizão partidária, o tucano Geraldo
Alckmin enfrentou provocações dos rivais.
Bolsonaro lidera as pesquisas de
intenção de voto nos cenários sem a presença do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Mesmo preso e condenado na Lava-Jato, Lula foi
oficializado como candidato do PT no fim de semana passado. A defesa do
petista tentou garantir sua presença no debate, mas os pedidos foram negados pela Justiça.
Além de Bolsonaro e Alckmin,
participaram do evento Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Alvaro
Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Henrique Meirelles (MDB) e Cabo
Daciolo (Patriota).
Alckmin na mira
Com um discurso mais técnico, o
candidato do PSDB procurou, em suas falas, citar dados de suas gestões
em São Paulo, enquanto adversários tentaram associá-lo ao governo Michel Temer.
Foi confrontado por medidas econômicas da gestão emedebista e sobre a
aliança com Centrão. Marina Silva criticou a aliança do PSDB com o bloco
partidário, que integra a base do Palácio do Planalto. A ex-ministra
disse que o governo é responsável pelas “mazelas e tem assaltado o
povo”. “Isso é fazer mudança?”, questionou ela ao tucano.
Alckmin afirmou que, para sair do
“marasmo”, é preciso aprovar reformas e que isso depende de uma
“maioria” no Congresso. “Alianças são por tempo de TV, para se manter no
poder. É a governabilidade com base no exercício puro e simples do
poder”, disse Marina. “Política é um caminho para mudanças e alianças
são necessárias para implementar mudanças”, respondeu o tucano.
Reforma trabalhista
Ciro e Alckmin divergiram em relação à reforma trabalhista,
aprovada em 2017. O candidato do PDT perguntou ao tucano se ele iria
manter a reforma trabalhista, que, na avaliação do ex-ministro,
introduziu insegurança jurídica e é uma “aberração”. Alckmin defendeu a
reforma, que ele classificou como “avanço”. “Mantenho a posição, reforma
trabalhista vai estimular mais emprego", afirmou.
O Bolsa Família,
marca de gestões petistas, foi elogiado por Meirelles e por Alckmin,
que prometeram aprimorar o programa de distribuição de renda. O tucano
aproveitou o tema para dizer que vai investir na área social,
principalmente no Nordeste, levando “água ao semiárido”.
O ex-ministro da Fazenda questionou o
tucano ao dizer que o PSDB chamou o Bolsa Família de “Bolsa Esmola” e
que o DEM, partido do Centrão que apoia Alckmin, afirmou que o programa
“escraviza as pessoas”. O tucano afirmou que vai ampliar o programa com
dinheiro do “Bolsa Banqueiro”.
O debate foi aberto com uma questão
única para todos os candidatos: como combater o desemprego. Alvaro Dias
gastou o tempo concedido se apresentando aos telespectadores e foi
interrompido quando citava novamente a sua intenção de, se eleito,
convidar o juiz federal Sérgio Moro para o Ministério da Justiça.
Boulos x Bolsonaro
Na rodada de perguntas entre os
candidatos, o momento mais quente ocorreu quando Boulos começou
perguntando para Bolsonaro, a quem chamou de “machista”, “racista” e
“homofóbico”. O líder o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST)
questionou o deputado sobre uma suposta funcionária fantasma mantida por
Bolsonaro em Angra dos Reis. “Quem é a Wal”, disse Boulos. Bolsonaro
afirmou que ela é uma funcionária em situação legal e retrucou: “Pensei
que fosse discutir política.”
O candidato do PSL questionou uma
reportagem do jornal Folha de S.Paulo sobre a funcionária. “Eles foram
lá e não acharam nada.” Na tréplica, Boulos afirmou: “Wal é funcionária
fantasma, que cuida dos cachorros do Bolsonaro em Angra dos reis. Wal é
vítima. Bolsonaro é a velha política corrupta. O senhor não tem
vergonha?”, questionou Boulos. “Teria vergonha se invadisse casa dos
outros”, respondeu o deputado.
O tema “mulheres” foi citado por
Alvaro Dias, que fez uma pergunta a Bolsonaro. Dias falou sobre a
questão da diferença de salário entre homens e mulheres e da violência
contra a mulher. Segundo Bolsonaro, a questão da misoginia foi um
“rótulo que botaram” na minha conta”. Disse que valoriza as mulheres e
que, em breve, os homens é que vão querer ganhar igual às mulheres.
Citou ainda seu projeto de castração química de estupradores que
quiserem reduzir suas penas. “Mas as mulheres de esquerda são contra.”
Diário do Nordeste
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