A Quadra Chuvosa deste ano elevará a
produção de mel no Ceará. Agora a preocupação é outra. O preço do
produto, em sua maioria exportado, caiu consideravelmente no exterior.
Os importadores estão oferecendo, no máximo, R$ 7 pelo quilo. No ano
passado, o preço no mercado internacional era R$ 12. A queda no valor
ocorreu em razão do aumento da produção nos países consumidores,
explicou o presidente da Câmara Setorial do Mel, Vinícius Araújo de
Carvalho.
Como as exportações chegam a 90% da produção no Ceará, sem o auxílio
governamental, o setor deve entrar em colapso. Os produtores não se
prepararam para a possibilidade de uma crise dessa natureza. Também não
aprenderam a atender e nem a trabalhar para as vendas no mercado
interno. Com a vegetação revigorada pelas chuvas, vão aprender que,
nesse segmento do agronegócio, nem tudo são flores. "Antes da seca,
éramos o terceiro maior produtor do Brasil, atrás apenas de Santa
Catarina e de São Paulo", destacou o representante da categoria.
Para agravar mais o problema, mesmo com a seca severa, prolongada por
seis anos, o número de apicultores cresceu. O Ceará já conta com grupos
organizados em 155 municípios, de um total de 184. São 254 associações,
sete cooperativas, quatro entrepostos de produção e sete mil
trabalhadores envolvidos diretamente. Até o fim deste ano a coleta de
mel deve superar 4,1 mil toneladas.
A opção encontrada foi introduzir o alimento, 100% natural, na merenda
escolar, como ocorre com o leite e outros itens. A ideia vai ser levada
ao governador Camilo Santana, na expectativa de conseguirem regular o
mercado local, pelo menos até o preço voltar ao patamar adequado, na
avaliação dos apicultores. Com a normalização do preço no mercado, os
avanços dos últimos anos na cadeia produtiva não correrão risco de
retração, aponta Carvalho.
Conforme a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), até
2010, a apicultura no Ceará mantinha posição de destaque no ranking
nacional, mas, devido à prolongada estiagem, vinha caindo ano a ano. Em
2017, houve uma pequena recuperação dos apiários e, consequentemente, da
produção. Em 2102, foram 3,11 mil toneladas; em 2017 chegou a 4,47 mil
toneladas e, para 2018, a projeção já é de 4,07 mil toneladas.
O diretor de Agronegócios da Adece, Silvio Carlos Ribeiro, reconhece a
dificuldade momentânea enfrentada pelos apicultores. "Como a expectativa
é de maior produção, quando há oferta o preço cai, é a lógica do
mercado. Entretanto, a Agência já está buscando alternativas para
solucionar o problema. Uma delas é agregar valor ao produto, como
comercializar o mel em sachê e em garrafas", afirma.
Outra frente de ação da Adece está na facilitação das exportações, tanto
por meio de serviços aéreos hub quanto pelo porto do Pecém. A
articulação junto à Secretaria de Educação do Estado (Seduc) também está
sendo feita. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
do Ceará (Sebrae-CE) é outro parceiro na solução desse gargalo,
ressaltou Ribeiro.
No segundo semestre do ano passado a Secretaria do Desenvolvimento
Agrário (SDA) deu inicio ao Projeto São José III. No pacote, com
investimentos de R$ 12,4milhões, do governo do Estado e do Banco
Mundial, mais de 1,6 mil famílias estão sendo beneficiadas com convênios
de projeto produtivo e assessoria técnica. Nesta fase, o Projeto
contempla 29 convênios de apicultura e de outras culturas, atendendo 40
comunidades de 33 municípios.