O ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho
afirmou, em anexo entregue ao Ministério Público Federal, que o
presidente Michel Temer pediu “apoio financeiro” para as campanhas do
PMDB em 2014 a Marcelo Odebrecht, que se comprometeu com um pagamento de
R$ 10 milhões.
No documento de 82 páginas, que o Estado teve acesso, o delator cita
ainda o papel do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) e do secretário
executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco,
além dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), e de outros parlamentares.
O anexo foi entregue durante as tratativas para o acordo de delação, no
qual o executivo se compromete a contar o que sabe sobre o esquema de
corrupção. Melo Filho precisará confirmar tudo que narra no anexo, em
depoimento formal.
Após todos os depoimentos, o material será encaminhado para que seja ou
não homologado pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato no
Supremo Tribunal Federal. Caso seja homologado, as delações vão basear
possíveis procedimentos de investigação formal.
Jantar
O ex-executivo detalha um jantar com Temer no Palácio do Jaburu, no qual
estiveram presentes Temer, Marcelo Odebrecht e Padilha. Segundo o
delator, Temer solicitou “direta e pessoalmente para Marcelo, apoio
financeiro para as campanhas do PMDB no ano de 2014”.
Uma das entregas foi feita no endereço do escritório de advocacia de
José Yunes, amigo de Temer e atual assessor da Presidência da República,
segundo ele, o que sugere o pagamento em dinheiro em espécie.
“No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição
de possuir o Vice-Presidente da República como Presidente do referido
partido político, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no
valor de R$ 10.000.000,00. Claramente, o local escolhido para a reunião
foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse
financeiro que foi feito naquela ocasião”, disse Melo Filho em seu
depoimento. Ele cita que há troca de e-mails nos quais Marcelo Odebrecht
se refere ao pagamento definido no jantar com referência a Temer como
“MT”.
Do valor negociado no jantar, R$ 4 milhões foram realizados “via Eliseu
Padilha”, a quem Melo Filho chama de “preposto de Temer”. Parte do
pagamento, segundo Padilha informou ao delator, foi destinada ao
deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Compreendi que os outros R$
6.000.000,00, por decisão de Marcelo Odebrecht, seriam alocados para o
Sr. Paulo Skaf”, afirmou.
O depoimento traz descrição detalhada e o ex-executivo complementa as
informações com data do jantar e placa dos carros da empresa que
entraram no Jaburu, além de mencionar horário de chamada telefônica a
Padilha no mesmo dia.
No depoimento, Melo Filho detalhou que tinha um relacionamento “muito
próximo com o núcleo político” de Temer. Segundo ele, Padilha e Moreira
Franco eram responsáveis por transmitir os pedidos da Odebrecht ao atual
presidente. “Tratei poucas vezes diretamente com Michel Temer”, disse o
executivo. Segundo ele, foi o ex-ministro Geddel Vieira Lima quem o
apresentou ao atual presidente da República, em 2005.
Em 2011, Marcelo Odebrecht pediu que o executivo informasse a Temer que a
então presidente da Petrobrás, Graça Foster, perguntou expressamente
quais pessoas do PMDB o presidente do grupo ajudou financeiramente na
campanha de 2010.
Marcelo disse que não respondeu à presidente da estatal, porque “não
dizia respeito a ela a relação dele com o PMDB”, e pediu pressa na
transmissão do recado ao vice-presidente. O recado foi passado a Moreira
Franco, que pouco tempo depois marcou um jantar no Jaburu, no qual Melo
Filho contou a história a Temer. “Para fazer chegar a Michel Temer os
meus pleitos, eu me valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, que o
representavam. Essa era uma via de mão dupla, pois o atual Presidente da
República também utilizava seus prepostos para atingir interesses
pessoais, como no caso dos pagamentos que participei, operacionalizado
via Eliseu Padilha”, escreveu o delator.
Ele também contou que Temer “esteve disponível” para ouvir tema de
interesse da Odebrecht em uma viagem institucional do vice a Portugal.
“Esse exemplo deixa claro a espécie de contrapartida institucional
esperada entre público e privado”, relatou Melo Filho.
Além do repasse de R$ 4 milhões “via Padilha”, o delator informou que
tratou com o atual ministro sobre o Aeroporto de Goiânia, sobre energia
para a petroquímica, sobre política na Bahia e as pretensões de Geddel, e
também sobre o seu escritório de advocacia em Porto Alegre. O codinome
de Padilha era “Primo”.
Moreira, com quem o executivo diz conhecer há muitos anos em razão de um
“parentesco distante”, tinha o apelido de “Angorá”. O ex-executivo diz
ter tratado com Moreira de demanda da Odebrecht para manter o modelo de
concessões de aeroportos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário