Três golpes pelo celular estão em alta e fazem vítimas diariamente no
Ceará, segundo o titular da Delegacia de Defraudações e Falsificações
(DDF), da Polícia Civil, delegado Jaime de Paula Pessoa Linhares. Duas
práticas criminosas se dão pelo aplicativo WhatsApp e a outra, pelo
chip.
"Temos que ter a consciência de que os golpistas hoje têm muito mais
domínio com relação a essas ferramentas que estão colocadas para o uso
geral", alerta o delegado.
Um dos golpes é conhecido como "link fraudulento". O criminoso envia uma
mensagem via WhatsApp, se passando principalmente por empresas, e
prometem prêmios. Quando a vítima clica no link, é levada para um site,
que solicita dados pessoais. Com as informações, o golpista comete
outros crimes.
Foi assim que um estelionatário teve acesso ao WhatsApp de um deputado estadual do Ceará, Acrísio Sena (PT).
"Eles entram pedindo a você a atualização de algum dado. Você termina
não prestando atenção, (pensa) que é algo sério e passa seus dados.
Quando cliquei, já perdi o WhatsApp, que passou para o controle dos
bandidos. É uma sensação muito ruim. Você vê as pessoas dialogando com o
criminoso como se fosse você e você não consegue fazer nada", revela.
O político teve a ajuda de amigos da área de Tecnologia da Informática
(TI) para rastrear o criminoso. "Felizmente conseguimos conter, mas ele
ainda conseguiu lesar uma jornalista que trabalhava comigo. Ela
transferiu o dinheiro para uma conta de um laranja aqui de Fortaleza. O
cidadão (suspeito) já estava na boca do caixa para retirar o dinheiro. É
tudo muito rápido. Contactamos o gerente do banco para bloquear futuros
repasses para a conta do criminoso", completa.
Outro golpe que se concretiza pela mesma plataforma é o "roubo do
WhatsApp". O golpista envia um SMS para a vítima e pede para que ele
responda quais os caracteres que ela recebeu na mensagem. Com o número, o
criminoso ativa o aplicativo no seu chip, resgata os contatos da conta e
pede recursos emprestados aos mesmos.
Um golpista se aproveitou de um anúncio da venda de um produto feito
pelo comerciante Francisco Esperidião Sales em outro aplicativo, o OLX,
para se passar por um funcionário da plataforma e pedir os caracteres
que continham no SMS.
"Foi uma coisa rápida, de segundos. Já foi ele mandando mensagens para
meus amigos (no WhatsApp). Os amigos ligando para minha esposa,
perguntando se estava tudo bem. Foi na hora que eu caí na realidade que
tinha sido 'clonado'. Eles já estavam pedindo dinheiro emprestado,
cartão", constata o delegado.
Outra prática criminosa é conhecida como SIM Swap (que significa a troca
do chip do celular). O criminoso coleta dados das vítimas através de
vazamentos de dados pela Internet ou pela compra de informações de
grupos criminosos e entra em contato com a operadora telefônica,
passando-se pela vítima, para que cancelar o chip e resgatar o número.
Com isso, o telefone da vítima perde a conexão (voz e dados) e o
fraudador recebe todos os SMS e chamadas de voz destinados à vítima, que
são utilizados com a finalidade de obter vantagens financeiras.
Registros diários
O delegado Jaime Linhares afirma que os registros desses golpes chegam à
Polícia Civil do Ceará todos os dias. O número não é contabilizado
porque todos os casos são enquadrados como crime de estelionato - como
inúmeras outras práticas.
"São golpes que o estelionatário procura agir com valores menores, R$ 1
mil, R$ 2 mil. Justamente para não chamar atenção. Ele tem um curto
intervalo de tempo para que possa ter sucesso com a aplicação dos
golpes", detalha.
O delegado comenta que, pouco tempo depois, a vítima costuma perceber
que caiu no golpe. "A primeira precaução é, quando você ter a ciência de
que você está sem a linha telefônica, sem um aplicativo, comunique
imediatamente à Polícia, faça o registro na Delegacia mais próxima,
também faça o comunicado ao banco que tem seus dados no telefone e dê
notícia às pessoas, aos seus contatos", orienta.
Prevenção
Especialistas de segurança digital entrevistados pelo G1 reforçaram a
importância de os usuários da Internet utilizarem o segunda camada de
autenticação dos sites.
"É uma tecla muita repetitiva, mas pertinente. Muitos sites e serviços,
de um modo geral, possuem o segundo fator de autenticação. Mesmo que eu
tenha teu usuário e senha, eu vou precisar de um segundo fator de
autenticação para acessar aquele teu serviço e autenticar a conta. Por
mais que seus dados estejam comprometidos, o segundo fator vai ser um
código dinâmico que só vão servir para um momento específico", explica o
analista de Gestão de Vulnerabilidade da Morphus, Joel Teixeira.
O perito forense computacional Marcos Monteiro é enfático quando
questionado sobre dicas para evitar cair em golpes pelos celulares:
"nunca informe a ninguém sua senha e SMS".
"O modus operandi (forma de atual) é igual para objetivos distintos. Uma
cliente disse que haviam hackeado o e-mail dela e apagaram tudo. Fui
investigar. Ele (criminoso) se fez passar por uma pessoa que estaria
participando de processo seletivo, ela estava em um site de recursos
humanos. 'Precisamos só de um SMS para confirmar que você recebeu o
cadastro'. Esse SMS era do Gmail, do Google, quando quero entrar na
conta porque esqueci a senha. Peço seu SMS, acesso seu e-mail, apago
tudo. Como sei seu e-mail, que é o mesmo que entrou no celular Android,
eu consigo formatar seu celular Android remotamente. Tudo isso por causa
de um SMS", revela.
G1 CE